Por Marcelo Sanzoni
O dia amanheceu cinza. Pistas vazias, ruas sem barulho de rodinhas correndo e rampas sem o estalo dos trucks no coping. O dia que o skate sumiu, virou um passado lembrado por muitos com amor e com desgosto; nunca mais se ouviria pessoas comemorando o acerto do amigo ou se reunindo para se divertir.
Você pode andar na rua e ouvir conversas entre ex-skatistas, já sem sua essência, já sem seu amor ao carrinho e todos eles tinham suas teorias do porquê o skate morreu:
- “As marcas não apoiavam o skate de rua, não faziam eventos e quando apoiavam não davam aquilo que realmente valia.” Diziam ex-skatistas amadores.
- “Os skatistas não consumiam as marcas nacionais. Como iríamos apoiar a galera? Não ajudavam na divulgação e as skateshops só queriam comprar por preços mínimos para vender com um lucro muito alto!” – Diziam os ex-empresários do skate.
- “Ninguém queria saber de nós, só estavam comprando online ou de contrabandistas, não tinha mesmo como se manter.” – Diziam os ex-donos de lojas.
- “Ninguém patrocinava a gente! Tinha que ficar revendendo produtos para pagar as contas. Nós não tínhamos como verdadeiramente viver do skate!” – Diziam os ex-skatistas profissionais.
- “Eu tirava uma grana do meu bolso. Dificilmente conseguia recuperar essa grana e ainda assim, ninguém chegava junto! O evento nunca bombava e ainda por cima, tinha que implorar por apoio e patrocínio!”– Diziam os ex-organizadores de eventos.
- “Por que vocês queriam que a gente continuasse a divulgar vídeos e matérias? Eles nem liam ou ajudavam a fortalecer o corre! Parecíamos loucos falando sozinhos!”– Diziam as pessoas que trabalhavam com a mídia do skate.
Todos tinham suas justificativas, mas sempre elas eram culpa dos outros. Eles não entendiam que acabaram entrando num ciclo vicioso, que em dado momento todos só começaram a reclamar de braços cruzados, negando a própria essência do DIY (do it yourself ou faça você mesmo). O skate um pouco antes do seu fim havia se tornado preguiçoso, molenga, queria tudo do bom e do melhor, mas não queria dividir com os outros. Dividir coisas que às vezes seriam insignificantes como um espaço de divulgação, um jogo de rodas usadas, uma colaboração, e não estamos falando de um contrato, mas pequenas coisas mesmo.
A única luz para tudo isso estaria na essência do skate, na união. Se cada um tivesse ajudado um pouco o outro, nada disso teria acontecido; ainda haveria um mundo de cores e gritos de alegria, aquele arranhar de rodinhas no chão que nos fazia sentir vivos, aquela alegria de ver a força de vontade de um brother com, literalmente, sangue nas roupas de não desistir de tentar voltar “aquela”!
Se você leu até aqui, você já sabe que não é muito o que mantém o skate além da união e da humildade de ajudar o próximo. Vamos fortalecer a cena e não ficar sentado reclamando dela! Coloque uma meta de pelo menos uma vez ao mês fortalecer alguém, e não precisa ser pagando algo, necessariamente. Abrace aquele prego na pista e ensine a ele a mandar uma manobra. Não é muito, mas é uma corrente que dá cor ao game e mantém o skate sendo muito mais do que uma tábua com quatro rodinhas e um eixo.
Só por curiosidade e para completar, naquele mundo sem skate, o que tomou o lugar dele como esporte radical sobre rodas era uma mistura de patinete com patins que pulava. Era algo muito esquisito... hahahaha... #eusouskatista
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Marcelo Sanzoni Skatista, com o trabalho em mídia no Canal Eu Sou Skatista desde 2016, militante do skate e sempre focado em divulgar a cultura e a essência do skate, transmitindo pelo menos duas lives por semana no Instagram a mais de um ano e dando voz a lendas, skatistas do dia a dia e fomentadores do skate, aquele que já entrevistou do menino do bairro até Sergio Negão e Tony Hawk, sempre por amor ao skate!. |