Sandro Soares dos Santos Testinha nasceu em 1978 no bairro da zona leste de São Paulo, Vila Matilde. Teve uma infância tranquila lá no meio da garotada, na rua. Na metade dos anos oitenta, 86, 87, ele passou a ver uns caras descendo na rua de skate e ficou meio que encantado com aquilo, era uma coisa rara de se ver nas periferias. Skate acontecia mais no centro, mas com a proibição dos anos oitenta, a galera migrou de andar na periferia, onde não tinha muita GCM, também vai ficar correndo atrás de skatista. Então ali eu tive contato com o skate pela primeira vez olhando as ruas. Que os caras faziam as rampas, tinha jump ramp, ficavam varando rampas, na V. Matilde acontecia muito isso. E ali eu fiquei meio que encantado com o skate.
Aí eu comecei a andar de fazendo rolo, né? De bicicleta, conseguindo monta de skate ali e aí começando andar por diversão aí descola que tem uma galera que pensa igual, curte uma música igual, se veste igual e aí comecei a andar mais empenhado ali em ficar naquilo porque todo mundo era bem aceito de certa forma. E assim ficamos, até mais ou menos anos 90, na virada de 89 pra 90, 91. Que o skatista local lá da Vila Matilde, Ricardinho Secco. Ele me chamou, eu e o falecido Espanto, que ficava andando na calçada e falou: vamos andar de skate lá num lugar que está mó galera colando, vocês vão ver como o skate ta de verdade. Levou a gente no centro ali no Anhangabaú, a gente já conhecia do metrô São Bento, que a gente ia la dançar break, e aí vimos que no Anhangabaú também tinha a cena do Skate e aí começamos a frequentar mais o centro ali, com 14, 15 anos de idade.
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Dali como todo moleque nos anos noventa a gente pô viu as coisas acontecer ali mais de perto. Pois o que eles jovens indo pros Estados Unidos anda de skate, competições acontecendo. Tudo ressurgindo, um pouco também dos depois dos planos econômicos malucos no Brasil. mas enfim a gente continua nessa onda, e já fazendo parte daquela cena agora, porque todo mundo fez marca, todo mundo fez alguma comunicação, vídeo, skate, e quem não andou muito, participou da produção dessas coisas todas enfim, é viver o skate. Então a gente passou muito isso nos anos noventa e aí que entra essa história de fazer marca pequena aí pra vender e aí foi parar dentro da FEBEM no ano de 2000 numa demo, e dali a gente percebeu que tinha muito moleque Igual a mim e e me tornei voluntário, depois professor na FEBEM depois funcionário, e fiquei dez lá meio que sendo a primeira ação social contínua no país. Pode ter tido outras, alguma iniciativa ou outra pontual, mas a contínua assim durante dez anos de 2000 até 2010, e foi uma grande faculdade, onde eu pude também ensinar muitas pessoas, um pouco daquele que vive no skate.
Aí na real o que aconteceu, durante dez anos, como a instituição da FEBEM era governamental, aí muda esse governo, muda-se partido, a gente mora nesse país que acontece muito isso, a galera reinventa a roda e vai mudando as peças ali. E a gente era umas peças digamos assim, poderia ser mudadas ali em algum momento, pela função que exercíamos, e assim aconteceu. Mas a vontade de ajudar, a vontade de mudar, a vontade de transformar a vida de pessoas através do skate, onde eu descobri que eram minhas melhores manobras e não aquelas nos obstáculos e junto da pedagoga Leila Vieira, nós criamos a ONG Social Skate dez, doze anos atrás, em 2010 pra 2011, despretensiosamente. Uma forma orgânica, colocando uma rampa de skate na rua e três skates pra emprestar entre quarenta crianças que estavam ali que era um filho de amigo, amigos dos nossos filhos e enfim, revivendo um pouco daquilo da virada dos 80 por 90 que era a galera se reunir na rua e andar de skate e a Leila por ser pedagoga implantou também a questão de caminhar junto com a educação dessa garotada, e aí surge o Social Skate, também esse projeto de cunho educacional esportivo. Esportivo a gente coloca skate é claro, em primeiro lugar nas atividades, e hoje atende 150 crianças, mas com diversas atividades, com recursos captados na lei de incentivo, e você volta lá trás e pergunta dos primeiros patrocínios, na verdade fomos nós.
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Quando você pergunta também do Prêmio Trip Transformador 2013, nós fomos indicados, a revista TRIP indica dez lideranças lá, no segundo conselho deles, que ajudam a melhorar o mundo, pelo menos no Brasil, em 2013 eu fui uma dessas indicações. E fazendo discurso memorável lá, lincando educação e skate e aí na plateia tinha o Luciano Huck, aí depois fomos parar no programa do Luciano Huck, onde deu uma visibilidade maior e uma reforma aqui na sede da ONG e sempre cada passo que a gente dava nessa subida dessa escada, a gente não esquecia de olhar pra trás e a gente subi com os dois pés bem tranquilo, bem calmo, devagar sem muita empolgação, porque a gente sabe da onde viemos e essa visibilidade eu falo porque não foi prêmios, não foi amizades, não foi aparição, mas tem a visibilidade, e como utilizar ela. E aí a gente resolveu utilizar tentando buscar recursos e patrocínios. Essa pergunta o primeiro patrocínio era um prêmio que a gente tinha ganhado do programa do Hulk que era um caminhão que acabou sendo um elefante branco aqui. A gente conversou com a produção e falaram que podia vender, e a gente vendeu e colocou o dinheiro na ONG. E aí se tornou o primeiro patrocínio da ONG Social Skate! Aí a gente já tinha um investimento, como nós mesmos que fizemos e a partir daí você começa a atrair a atenção de outros investidores a partir do momento que você tem alguém que já acreditou naquilo que você faz e já investiu algum dinheiro. Se não tiver nesse caso fomos nós mesmos.
Dificuldades a gente olha como skate, um obstáculo a ser superado. Então, a falta de recurso que a gente foi sanando com essa história da visibilidade, a falta de um espaço público decente pra você estar ali. Então a gente atua em área que é abandonada pelo poder público aqui municipal e aí a gente mesmo cuida, a gente pinta, é vestir a camisa, é cansativo. Essa é a maior dificuldade, você não se cansar em cuidar de tudo além do que você deveria cuidar.
A vitória eu acho que é cada reconhecimento aí que a gente tem, de um anônimo, de uma pessoa que não é conhecida principalmente, que para a gente na rua, que fala que acompanha na internet e pede pra dar um abraço, cumprimentar as vezes, tirar uma foto. Acho que a vitória é essa, a vitória dos humildes. E diz uma música do Emicida assim: os esquecidos lembram de mim porque eu lembro dos esquecidos. Então acho que essa é uma grande vitória.
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Derrota é a gente sabe que a gente está atuando em área de risco, área periférica onde muita coisa que não é dentro da lei, e que também a lei não se faz presente pra resolver, então a gente fala que de mais de mil crianças atendidas é óbvio que algumas não seguiram ali sobre o que é a trajetória que a gente mandou por N motivos e aí uns foram pra criminalidade outros para trafico, uns presos, outros já faleceram, também não são muitos. Mas cada um desse é uma derrota a gente queria que tivesse conosco até hoje
Não vamos dizer que a gente leva uma porrada, mas a gente toma um tombo. E quem toma tombo no skate faz o que? Levanta, olha onde errou, corrige o posicionamento, as vezes ouve uma dica ali e um simples posicionamento a corrigir pode voltar lá e acertar a manobra, mudou a direção do pé ali só um pouquinho no shape, a manobra mudou toda. E aí acho que quando a gente toma um tombo a gente analisa dessa forma e aí a gente vai lá e faz, realiza manobras, seja ela no skate seja ela na vida seja ela no projeto seja ela na escola no trabalho, vamos acertar manobra.
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O skate na Olimpíadas ele é como um outro esporte e aí eu uso muito a comparação do vôlei de praia. Que o Brasil também já conquistou ouro no feminino eu acho e no masculino se eu não me engano. Mas eu olho muito, eu comparo essa com essa coisa, eu fiquei um tempo no Rio por causa do da conexão com o projeto do Ademar Luquinhas, o Ademáfia e eu estou um ano e meio indo e voltando quase que mensalmente, então eu estou meio que vivendo um pouco no Rio, e aí eu fiquei olhando um dia na praia, pessoal que jogava o vôlei de praia descontraído. Então rolava o quê? O cara jogava, daqui a pouco parava o jogo, ele saia de canto tomava um gole de chopinho, daqui a pouco trocava um jogador pro outro ir fumar um cigarro, ou seja e daqui a pouco saía um pra ir pro mar e daqui a pouco voltava outro la do mar sei lá, molhado, então eu falei: mano, imagina quando o vôlei de praia se tornou olímpico, com aquelas regras tudo aquilo, esses caras, o que mudou pra eles que tiram essa onda jogando vôlei de praia? E jogavam bem pra caramba. O que mudou na vida desses caras? Eles continuam usando o vôlei ali pra pra tirar uma onda pra se divertir. E assim eu acho que o skate também. Eu estou olhando aqui pra umas fotos de skate rua que eu tenho na parede da ONG, então eu falei esse skate aqui que não vai aparecer nas Olimpíadas né? Tem uma foto do menino descendo um corrimão dentro do cemitério, Formiguinha na Nove de Julho, andando no guard rail, não vai ter essas coisas na Olimpíadas, mas isso vai continuar acontecendo, como skate, como o skate essência e diversão. E a Olimpíadas traz visibilidade, quem souber aproveitar bem essa visibilidade de uma forma honesta, justa e digna, eu não vejo problema nenhum, principalmente se for aproveitar pra causas sociais. Aí a Fadinha que dá o recado aí, que deu o maior exemplo que foi a indicação da ONG pra receber um prêmio da Visa Award com o Comitê Olímpico Internacional. Prêmio esse que todo mundo conheceu e divulgou e que a gente pretende com ele, ampliar as instalações da Social Skate, uma instalação bem legal, a gente tá vendo uma coisa bem impactante aqui dentro da comunidade. A gente quer fazer algo elegante, algo confortável, algo considerado até por alguns chique, mas dentro da comunidade, não fora da comunidade.